Casal celebra o amor para vida inteira no Dia dos Namorados de forma rara, ao se casar na UTI do Hospital Márcio Cunha
Lá vem o noivo! E ele vem rápido, trazendo o pastor e a autorização do médico tão esperada pela paciente internada Jhullimayre: vai ter casamento. Madrinhas e padrinhos de última hora, todos de branco, não perderam tempo. Foram logo usando suas técnicas em Enfermagem e também em carinho e cuidados especiais. Toda hora chegava alguém e perguntava Você vai casar? E todo mundo ajudou. Uma dava banho, outra desembaraçava o cabelo, outra fazia maquiagem, escovava meus dentes… teve até quem se preocupou em ir ao jardim e me trazer flores, conta a noiva.
Impossível conter a alegria e segurar a emoção no último dia 12 de junho, Dia dos Namorados, há apenas uma hora e pouco do grande momento, mesmo que em um local jamais imaginado em seus sonhos: a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga (MG). Cleyton e Jhullimayre são daqueles casais em que dá gosto de ver o amor de um com o outro. Desde que nos encontramos pela primeira vez, não deixei ela escapar, lembra ele. Lá se vão oito anos juntos, dividindo o mesmo teto em Cachoeira Escura, distrito de Belo Oriente, e o amor pela filha Júlia, de seis anos, que não pôde participar da cerimônia.
Há dias atrás, na véspera do casamento, marcado para o dia 13 de junho, Jhullimayre começou a sentir fortes dores de cabeça. Começava aí sua luta pela vida, sendo levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ipatinga. De lá, foi internada no Hospital Municipal e, com a necessidade de cuidados especiais e exames especializados, foi transferida para a UTI do Hospital Márcio Cunha. Estava tudo preparado, mas, não sei se por conta da ansiedade, ela passou mal e veio para o hospital. Teve um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico, causado por uma má-formação arteriovenosa ou por um aneurisma e, por isso, aguardamos novos exames para definir o melhor tratamento, explica ele atenciosamente.
Ao saber do fato, o amigo e pastor Renato Cardoso foi cauteloso. Mas ao ver que o casal não abriria mão de um momento tão especial, mesmo em um momento delicado, se prontificou em cumprir a missão. Se quiser, vamos fazer. É o que chamamos de casamento religioso com efeito civil, o que dispensa a vinda do juiz de paz do cartório. E assim vim. Para mim, é um sentimento diferenciado. É uma alegria por saber da união deles, embora esteja num lugar inusitado. O importante é que sejam felizes, a partir das bênçãos de Deus, agradece o pastor da Primeira Igreja Batista de Cachoeira Escura.
Para a médica e gerente da UTI, Thatiane Olivier Ticom, o exemplo de perseverança do casal deixa mais um aprendizado para os profissionais do hospital. É um incentivo a continuarmos com nosso trabalho, pois, independente do ambiente de intensividade, das gravidades das patologias e da racionalidade nas decisões que enfrentamos dentro das UTIs, nossa equipe cuida de pessoas, dos seus sentimentos e expectativas. Estamos nos dedicando muito a multidisciplinaridade do tratamento.
E ali, de mãos dadas e assistidos pelas orações e os olhares atentos de uma equipe de enfermeiros, técnicos em enfermagem, médicos, nutricionista, fisioterapeuta, profissionais de higienização, ou melhor, de convidados escolhidos pelo inesperado, Cleyton e Jhullimayre selaram o amor e a vontade de continuar vivendo com saúde por ainda muitos e muitos anos. Quando estávamos marcando a data até pensamos: sábado podia dar no Dia dos Namorados! Acabou que o destino quis assim, lembra a esposa recém-casada.
E o marido completa: Não é o momento que a gente esperava, mas Deus reservou este, e o nosso sonho de ficar juntos até ficar velhinhos permanece. A festa fica pra depois, quem sabe até com a participação de todo mundo aqui, para comemorar, brinca ele. Para nós, é mais um recomeço, uma nova oportunidade de ver a vida mais bonita. Saber que existe um Deus acima de tudo, com plano para nossas vidas e com a hora precisa para agir. Uma história com final feliz, com certeza.