Fabiana Melato, pediatra da Fundação São Francisco Xavier
No dia 1º de julho é comemorado o Dia da Vacina BCG (Bacilo Calmette-Guérin). A data marca a criação do imunizante utilizado na prevenção de formas graves da tuberculose, como a Meningite Tuberculosa e a Tuberculose Miliar, impactando dessa forma na diminuição da mortalidade infantil pela doença. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que nos países onde a tuberculose é frequente e a vacina integra o programa de vacinação infantil, mais de 40 mil casos anuais de meningite tuberculosa sejam prevenidos. Por isso, é importante ter uma cobertura vacinal adequada, em torno de 95%, para bons resultados.
A imunização infantil é uma etapa fundamental para o desenvolvimento saudável de todas as crianças, por isso, é obrigatória no Brasil e está presente no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) como um dos direitos das crianças. O não cumprimento dessa obrigação pode, inclusive, acarretar em penalidades como, por exemplo, a suspensão de benefícios em programas do Governo.
A vacinação reduz a mortalidade infantil, aumenta a expectativa de vida e oferece condições de crescimento e desenvolvimento para que a criança se torne um adulto saudável. Segundo a OMS, depois da água potável, nenhuma outra intervenção teve tanto impacto na saúde quanto a imunização. As vacinas salvam vidas, reduzem hospitalizações e sequelas causadas por doenças imunopreviníveis.
Com indispensável aplicação na primeira infância, a BCG não é a única que protege vidas infantis. Ela faz parte de uma lista de vacinas essenciais e obrigatórias para prevenir doenças e até a morte de crianças. Os imunizantes mais importantes dessa fase são disponibilizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). As vacinas são tão fundamentais que foram responsáveis, nas últimas décadas, pelo aumento de 30 anos na expectativa de vida, de acordo com o Programa Nacional de Imunização (PNI).
O problema é que muitas doenças que já estavam praticamente erradicadas em vários países começaram a voltar devido à baixa cobertura vacinal dos últimos anos, principalmente no período de pandemia. Os dados são alarmantes. Em abril de 2022, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) divulgou que, em apenas três anos, a cobertura de vacinação contra sarampo, caxumba e rubéola (Tríplice Viral) caiu no Brasil, de 93,1% em 2019, para 71,49% em 2021. A cobertura da vacinação contra a poliomielite também teve uma queda preocupante de 84,2% para 67,7% no mesmo período.
De acordo com a UNICEF, três em cada dez crianças não foram vacinadas com imunizantes necessários para protegê-las de doenças que, inclusive, podem ser fatais. A baixa adesão também foi verificada em outras vacinas. Segundo o Ministério da Saúde, em 2021, em torno de 60% das crianças apenas foram vacinadas contra a hepatite B, o tétano, a difteria e a coqueluche.
A situação acende um alerta vermelho para a imunização infantil. Sabemos que as vacinas são armas seguras e eficientes para prevenir doenças e salvar vidas. No Brasil, a vacinação para crianças menores de 5 anos tem sofrido quedas desde 2015. A pandemia aumentou o problema, deixando a vacinação infantil nos níveis mais baixos das últimas três décadas.
É preciso que, cada vez mais, a sociedade, organizações civis e governos se unam para aumentar os índices de coberturas vacinais e promover campanhas de imunização que conscientizem a população da importância da vacinação infantil. Vacinar é um ato de amor e cuidado.